GERAL
Instituto Yacamim de Carazinho busca apoio para encontrar nova sede e divulga carta aberta
Foto Mara Steffens/O Correspondente
Atendendo crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social há quase 18 anos em Carazinho, o Instituto Yacamim precisa de ajuda para mudar de sede. Atualmente, a entidade funciona em um imóvel alugado na Rua Itarará, em frente ao Bigode do Prefeito, mas o espaço não é mais suficiente para comportar as atividades ofertadas para as estrelas, como são chamados os jovens que encontram no Yacamim assistência e afeto. Além disso, como sobrevive de doações, o instituto tem sérias dificuldades para arcar com o aluguel.
O desejo de encontrar outro espaço não é recente. Há quase um ano, quando O Correspondente fez uma matéria por ocasião aniversário de 17 anos do Yacamim, a fundadora Vera Suckau falou sobre a necessidade de mais espaço para as oficinas. Você pode reler clicando neste link.
Nesta semana, o assunto ganhou ainda mais força a partir de uma manifestação nas redes sociais da escritora Jana Lauxen. Ela é educadora social no Yacamim onde coordena oficina de texto para adolescentes a partir dos 12 anos. Jana publicou uma carta aberta, enderaçada ao prefeito João Pedro, que você lê, na íntegra abaixo.
De acordo com Jana, a direção do Yacamim já procurou o chefe do Executivo Municipal, que se comprometeu a estudar uma alternativa, diante do impacto social que o instituto deixa na comunidade, proporcionando alternativas saudáveis para crianças e adolescentes, distanciando-os de situações negativas como drogas e violência.
A carta aberta tem por objetivo divulgar a necessidade do Yacamim para toda a comunidade e sensibilizar os carazinhenses para a causa. Ainda de acordo com Jana, a direção do instituto visitou alguns imóveis no município a fim de encontrar um novo espaço, mas para que a mudança aconteça, a mobilização precisa ganhar força.
"Prezado prefeito João Pedro:
Escrevo esta carta aberta para você porque o assunto que abordarei aqui interessa a todo o carazinhense com olhos de ver o que, para muitos, é convenientemente invisível.
Escrevo, porque acredito de verdade em Carazinho e no poder criativo e criador da nossa comunidade. Caso não acreditasse, não faria o que faço, não trabalharia com o que trabalho e muito menos me movimentaria como me movimento em prol do coletivo, das pessoas, que fazem de nossa cidade, nossa casa. Afinal, nós sabemos: lar é CPF, não CEP.
Por isso também, sou educadora social noInstituto Yacamim, um projeto prestes a completar 20 anos e que dispensa apresentações. O Yacamim vem atuando e interferindo positivamente em Carazinho há quase duas décadas, acolhendo não só crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, mas também suas famílias.
Sempre fui uma grande admiradora do Yacamim, e penso que todo carazinhense que conhece o esforço incansável e ininterrupto da Vera Suckau e sua trupe, o admira também. Porém, foi só recentemente, quando passei a integrar a equipe da instituição, e pude ver o trabalho de dentro pra fora (e não só de fora pra dentro), que vislumbrei como e quanto o Yacamim torna Carazinho um lugar, de fato, melhor.
Porque o trabalho realizado não é apenas de acolhimento social. O alimento oferecido vai além do pão, do arroz, do feijão. É emocional, familiar, cultural, psicológico, pedagógico. É integral. Mais do que cobertores e roupas, aqui se encontra abraço, afeto, escuta, carinho. O Instituto Yacamim literalmente entendeu o que os Titãs já cantavam lá nos anos 80: a gente não quer só comida. A gente precisa de comida, mas quer mais. A gente tem direito a mais.
Porém, prezado João, o Yacamim precisa de ajuda. Atualmente, nossa sede, que se localiza na Rua Itararé, n.º 712, está precária. Não temos espaço suficiente para as atividades e o imóvel necessita de reparos, muitos reparos. Não há acessibilidade. Chove pra dentro. A rede elétrica deixa muito a desejar. Não possuímos pátio e nem estrutura para fazer tudo o que podemos e queremos fazer. Passamos a maior parte do tempo endividados e suando muito para conseguir o mínimo – pagar água, luz, o aluguel.
E é justamente sobre o aluguel do Yacamim que gostaria de falar aqui, estimado João.
Acho que, após quase 20 anos de necessários serviços prestados – e centenas, provavelmente milhares de jovens carazinhenses e suas famílias atendidos – o Yacamim merece um olhar mais atento do poder público de Carazinho.
Portanto, escrevo esta carta para solicitar publicamente que a Prefeitura Municipal de Carazinho assuma o aluguel do Instituto Yacamim. Que custeie um espaço melhor, maior, mais acessível e seguro, para que nossas crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social possam ser mais bem acolhidos, em um local apropriado para suas necessidades mais básicas.
Não pedimos nada demais, prefeito João. Apenas uma casa com condições de receber nossos pequenos carazinhenses com mais segurança, conforto e acessibilidade.
No momento, atendemos quase 80 crianças e adolescentes. Se contarmos suas famílias, estamos falando de centenas de carazinhenses, que hoje encontram no Yacamim amparo, alimento, educação e, acima de tudo, esperança.
Eu sei, João, que você quer realmente fazer de Carazinho uma cidade melhor, mais próspera, mais feliz, menos desigual. Eu sei que você olha e vê, que você escuta, que você sente. Que você se importa.
O Yacamim precisa – e precisa urgentemente – do poder público para seguir trabalhando e tornando nossa cidade menos hostil com os invisíveis; com aqueles para quem ninguém olha, ninguém vê, ninguém escuta; com os quais poucos se importam.
Mas nós nos importamos, certo?
Antes de encerrar, com todo o carinho convido você, prefeito João, vice-prefeita Valéska Walber, demais autoridades e todo carazinhense interessado, para nos fazer uma visita, conhecer nossas atividades e ver o trabalho do Yacamim de dentro pra fora.
Tenho certeza que, assim como aconteceu comigo, vocês vão se surpreender com o tanto que é feito com tão pouco.
Agradecendo pela atenção e certa de seu interesse pelo assunto aqui tratado, me despeço com um forte abraço, João.
Atenciosamente, Jana Lauxen.
Carazinho, junho de 2025"
Data: 17/06/2025 - 15:41
Fonte: Mara Steffens