POLÍTICA
Violência política de gênero não é mimimi

Na coluna de hoje, queria estar tratando dos recursos aprovados para o nosso HCC, que irão permitir a redução na fila para as cirurgias eletivas ou queria escrever sobre a iniciativa da secretaria de Agricultura, com a realização da AgriFest ou ainda da inclusão da nossa Biblioteca no Sistema Estadual de Bibliotecas. Também poderia fantasiar sobre a possibilidade dos nossos vereadores demonstrarem efetiva preocupação com os quase 150 casos de chikungunya confirmados no município, doando seu tempo e, quem sabe, parte dos seus salários, em ações de combate ao mosquito e já que estamos na linha da fantasia, poderia sonhar que em quatro meses de mandato, a maioria deles tivesse apresentado mais do que apenas um projeto de lei para honrar os cerca de R$6mil reais de subsídios que recebem todo mês. Também gostaria de ainda poder estar comemorando o fato de Carazinho ter eleito pela segunda vez uma mulher vice-prefeita, duas mulheres vereadoras, além de várias suplentes, o que demonstra um grande avanço no combate à misoginia e ao machismo nos espaços de poder. Só que não...
Mimimi (?)
...Infelizmente, não é possível se dar o luxo de escrever sobre coisas positivas quando em uma sessão da Câmara de Vereadores em meio a uma das maiores crises de saúde do município, os vereadores preferem ficar trocando farpas entre eles e quando uma mulher eleita com 722 votos é desrespeitada. A situação vivida pela vereadora Juliani Pinzon (PSDB) na última segunda-feira é escancaradamente e vergonhosamente a mais clara demonstração de violência política de gênero, sofrida por tantas mulheres em espaços de poder, e que por incrível que pareça ainda é chamada de mimimi...Aliás, a pior violência é a sutil que se esconde em falas pretensamente progressistas, que inclusive, defendem que termos como “empoderamento feminino” estão ultrapassados e que chamam de neuróticas as mulheres que denunciam o machismo estrutural...Sabe-se que uma das estratégias de neutralizar uma luta é defender que a causa já foi superada...
Machismo e desrespeito
... Se os vereadores César Salles, Erlei Vieira, Tenente Costa, Everton Huning, Cleomar Santos, Vini Kunrath e Márcio Hoppen deixaram o plenário de propósito quando a vereadora subiu na tribuna é grave e desrespeitoso, demonstrando um machismo escancarado por acreditarem que uma mulher não merece ser ouvida. Se deixaram o plenário “sem querer” ou por motivos aleatórios, como alguns tentaram justificar após a repercussão negativa do caso, é igualmente grave por demonstrar um machismo velado e até mesmo inconsciente, mas ainda assim, desrespeitoso, porque o mínimo que se espera de homens públicos – e não só políticos - é que evoluam juntamente com a sociedade...Não basta não ser machista e celebrar as conquistas das mulheres no dia 08 de março. É preciso ser antimachista...Existem muitos livros que ensinam isso, é só buscar...
A propósito I: a título de esclarecimento, a vereadora Berenice Muller já havia se ausentado da sessão em função de um problema de saúde na família.
A propósito II: permaneceram no plenário, os vereadores Valdoir de Lima, Adriel Machado, Alaor Tomaz e Bruno Berté, que como presidente, demonstrou firmeza e bom-senso ao interromper a sessão.
Falta de quórum (?)
Por que será que justamente quando uma mulher sobe para utilizar a tribuna, os vereadores decidem conversar nos corredores, tomar um cafezinho ou ir ao banheiro? Qual era o assunto tão importante e urgente, sendo que recém tinham retornado do famigerado e desrespeitoso intervalo regimental? Quando uma sessão tem que ser interrompida por falta de quórum justamente na vez de uma mulher se pronunciar, algo está muito errado...Aliás, ter que interromper qualquer sessão porque os vereadores decidiram confabular nos corredores já é grave, porém, certamente não foi coincidência a falta de quórum justamente na vez de uma mulher se pronunciar...
Desinteresse
A verdade é que ao demonstrar desinteresse pelo pronunciamento de uma mulher, os sete vereadores ausentes do plenário demonstraram desinteresse pelo o que as 25.130 eleitoras carazinhenses têm a dizer...Alguns chegaram a afirmar que não gostam da voz da vereadora ou do seu tom “debochado”, no entanto, como ela mesmo disse, “acostumem-se, pois esta é a voz da mulher na política”...Ou será que a mulher só é aceita na política quando se masculiniza, mudando o tom de voz, ou quando não vai para o enfrentamento? ...É isso mesmo produção???
A propósito III: talvez o que possa incomodar alguns vereadores seja o português correto da vereadora, já que muitos assassinam a gramática a cada frase...Quem sabe se eles a escutassem poderiam aprender um pouco sobre concordância e plural???