POLÍTICA
Executivo Municipal e direção do HCC se unem em busca de uma solução para o hospital

Foto Divulgação
O problema está longe de ser novo, assim como está longe de ser particular de Carazinho. A crise dos hospitais filantrópicos, - cujos atendimentos são feitos em grande parte pelo SUS -, vem de décadas e o valor do endividamento supera mais de R$10 bilhões entre os 3.288 hospitais filantrópicos e Santas Casas distribuídos em 1.700 municípios do país. Analisando os números, fica fácil entender como se chegou a estes valores...
Conta não fecha
...Na Emergência do HCC, por exemplo, onde são feitos mais de 5 mil atendimentos por mês, o Hospital recebe apenas R$0,63 por toda a medicação que o paciente receber. O valor repassado para manter o paciente na Emergência com quatro refeições é de R$12,47. Enquanto o hospital tem um custo mínimo de atendimento de R$140,00, o SUS repassa R$30,40 por um atendimento na emergência, incluindo profissionais, estrutura, insumos, medicamentos, alimentos e exames. Não tem como a conta fechar...
Defasagem
Mas se por um lado, é fácil entender o déficit, por outro lado, é difícil se chegar a uma solução. Há mais de 20 anos, os hospitais filantrópicos vem buscando um reajuste da tabela do SUS. Para se ter uma ideia, a defasagem é tão grande que enquanto um hospital gasta cerca de R$2.500,00 para realizar um parto, a tabela paga R$450,00 pelo procedimento. Desde o início do Plano Real, em 1994, a tabela sofreu um reajuste médio de 93,77%, enquanto o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) subiu 636,07% no mesmo período. Qualquer empresa já teria falido com um déficit deste tamanho...
Proposta
Para sobreviver, os hospitais, assim como o HCC, vem buscando financiamentos bancários e recursos suplementares do município e Estado, mas a bola de neve só cresce...Diante do agravamento da situação, uma das alternativas propostas pelo Executivo à direção do hospital foi o repasse de R$1.600,00 como verba de subvenção, porém, com a condição da instalação de uma auditoria paga pelo município e uma vaga na gestão do hospital. Porém, hoje já existe uma auditoria independente no hospital, além de uma consultoria feita pelo hospital Moinhos de Vento. Quanto a indicação de uma cadeira na direção, é uma proposta perigosa, diante do risco de politizar a gestão...
Alta Complexidade
O impasse foi pauta de reunião com a secretária de Saúde do RS, Arita Bergmann esta semana, reunindo integrantes do Executivo e direção do HCC, quando ficou acertado a vinda de servidores da secretaria ao Hospital com o objetivo de orientar a gestão na implementação de novos procedimentos para processos de alta complexidade, o que deve aumentar o envio de repasses. Segundo o presidente do HCC, Jocélio Cunha, os novos procedimentos que serão adotados são importantes, mas a solução passa ou pelo aumento do Teto MAC, que é o valor repassado para o município para atendimentos de média e alta complexidade, ou da tabela do SUS.
Coisas diferentes
Mas durante a reunião com a secretária Arita Bergmann não se tratou apenas de problemas. A boa notícia confirmada pela secretária é a inclusão do município no Avançar RS, o que irá garantir o repasse de R$1,5 milhão para a construção do novo Centro Obstétrico. Aliás, para quem leu os tópicos acima pode parecer estranho estarmos falando de novas obras diante dos problemas de endividamento do hospital. É que uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa, e por mais difícil que seja entender o funcionamento burocrático da máquina pública, recursos para investimentos – geralmente liberados através de programas ou emendas – não podem ser utilizados para despesas de custeio.
Uma coisa puxa a outra
Por outro lado, quando mais equipamentos de ponta o HCC oferecer, mais público pagante vai ter para compensar os atendimentos do SUS, assim como o Restaurante, que hoje é superavitário e cujos recursos são utilizados para compensar o déficit. Ou seja, uma coisa puxa a outra... O que não pode é cada um puxar para um lado na tentativa de solucionar um problema tão complexo e vital para o nosso município, e diga-se de passagem que quando falamos em hospital, não estamos falando somente em saúde, mas também em dinheiro de toda uma região circulando na nossa economia...
A propósito: durante a reunião com a secretária Arita Bergmann, chamou a atenção de que apesar dos dois deputados carazinhenses terem sido convidados, apenas Ronaldo Nogueira (Republicanos) compareceu. Márcio Biolchi (MDB) se fez representar pelos assessores Cris Lohmann e Romano Guerra...Segundo ele, o culpado foi o trânsito de Porto Alegre (?) ...Também estiveram na reunião a secretária de Saúde, Carmen Santos, a vereadora do PSDB, Juliani Pinzon e direção da ACIC.
Amarelaram (?)
Desde a vinda do vice-governador e pré-candidato ao Piratini pelo MDB, Gabriel Souza, à Carazinho nota-se claramente uma mudança de comportamento dos vereadores do MDB na Câmara. Até mesmo o combativo Tenente Costa baixou o tom das críticas na tribuna, deixando a acidez apenas para os vídeos nas redes sociais. A mudança não é difícil de entender, já que o partido terá o PSDB como principal aliado em 2026, e quem não quiser embarcar neste trem terá que pular durante a janela partidária de abril do ano que vem. E não é de duvidar que muitos pulem, já que parte das lideranças do MDB vem se identificando muito mais à direita, com o PP e até mesmo, com o PL...Além disso, o fator que mantinha o MDB motivado em Carazinho, que era o poder de votos de Márcio Biolchi, pode estar se despedindo da política...
Críticas no papel
Com a neutralização do MDB – correspondendo uma orientação que provavelmente veio de cima – sobrou para o PP o papel de “paladino da oposição” na Câmara. Na última sessão, o ex-assessor de Daniel Weber, vereador Cleomar Silva fez duras críticas à negligência, segundo ele, que a atual gestão vem tratando os servidores públicos, com pouca estrutura e material de trabalho nos setores. Também criticou a forma que o prefeito João Pedro vem administrando a crise financeira do HCC, com tentativas de interferir na administração do HCC. Porém, o que chamou a atenção é que todo discurso do vereador foi lido, como se uma terceira pessoa estivesse escrito...Ficou feio...
Números e narrativas
Durante muito tempo em Carazinho, a dúvida era de quanto a gestão que saía deixava de dívidas para quem estava assumindo. Pois agora, a discussão é quanto a antiga gestão deixou de superávit para a atual. Segundo informações do ex-prefeito Milton Schmitz, o valor era de R$70 milhões. Porém, de acordo com a atual gestão, o superávit foi de apenas R$16 milhões. Dizem que números são números, e não cabem interpretação, mas na política, números constroem diferentes narrativas...
Detalhe
...De acordo com resposta do Pedido de Informação feito pelo vereador Cleomar Silva (PP), a antiga gestão deixou em 30 de dezembro de 2024, o montante de R$69 milhões em caixa, e atualmente a atual gestão teria R$90 milhões em caixa, o que não é mentira...O detalhe é que não se trata de superávit com recursos livres para investir onde e como quiser. Grande parte deste valor faz parte do orçamento para o ano de 2025, ou seja, já está comprometido. Como disse, construção de narrativas, que poderiam ser desfeitas com a apresentação discriminada dos valores de forma transparente, quem sabe até mesmo no outdoor localizado na esquina da Praça Central.
Desinformação
Falando em construção de narrativas, sabe-se que elas fazem parte da política, mas até mesmo para isso, é preciso estar muito bem informado, pois caso contrário, se transforma em desinformação, a popular, fake news, correndo o risco de ser desmentido publicamente, como aconteceu com o vereador Tenente Costa (MDB) na última sessão da Câmara. De acordo com o vereador, um dos deputados carazinhenses teria votado contra o projeto de securitização. Apesar de não ter citado nomes, é claro que ele se referia ao deputado Ronaldo Nogueira (Republicanos). Pois minutos depois, a vereadora suplente Monica de Oliveira (PSDB) corrigiu o vereador afirmando e provando que ambos deputados de Carazinho votaram à favor do projeto, o que nem poderia ser diferente diante da importância da securitização não só para a agricultura, mas para toda economia do município. Não se sabe se foi desinformação ou má fé do vereador, mas nos dois casos pegou mal...
A propósito: o deputado Ronaldo estará em Carazinho nesta sexta-feira, quando deve anunciar um recurso de cerca de R$800 mil para o esporte do município.
Elogios
Como de praxe, oposição e situação concordam em poucos aspectos, mas se há atualmente um consenso entre os dois grupos é em relação à atuação da secretária de Saúde, Carmen Santos. Bastante criticada no início do governo, até pelo fato de ser sogra do prefeito, a secretária recebeu só elogios na última sessão da Câmara, muito em função das tendas de atendimento no bairro Passo d’Areia, no HCC e na UPA, que se não resolveram todos os problemas da população, representaram um importante reforço...Presença constante na Câmara, parece que a secretária ganhou a simpatia dos vereadores. Até quando, não se sabe...
Indefensável
Por outro lado, oposição e situação vem sendo unânimes também na preocupação com a questão do lixo em Carazinho. É que realmente passou a ser indefensável o fato de passados seis meses de gestão, um problema tão grave não ter sido solucionado. Manter uma cidade limpa é o mínimo que se espera de qualquer administração. É incrível que nem a administração anterior e nem a atual tenham conseguido fazer o básico neste aspecto. A notícia é que agora foi criada uma comissão para estudar alternativas para o problema. Só agora? ... Dizem que quando não querem que uma coisa aconteça rapidamente, criam uma comissão...A gravidade do problema não requer uma comissão, mas sim que seja decidido com um canetaço do prefeito, o mais breve possível...
Data: 25/07/2025 - 07:44
Colunista: Nadja HartmannFonte: Nadja Hartmann