POLÍTICA

Cifras envolvidas no Planeta Agro exigem total transparência da administração

Foto Divulgação

 

Escrevo essa coluna após a primeira noite do Planeta Agro e a constatação é que o evento foi um sucesso de público e de organização. Mesmo assim, devem haver críticas, o que é esperado por envolver política...O importante, porém, é que mesmo correndo riscos, a atual administração foi lá e fez, o que demandou coragem e ousadia. Apresentado como projeto piloto, o evento deve passar por modificações nas próximas edições. Uma questão que não ficou muito clara é qual exatamente a ligação com o agro, além do nome, até porque o estilo sertanejo tornou-se urbano há muito tempo...

 

Agenda paralela

Outro aspecto que pode ser mais difícil de dimensionar é se o evento realmente atraiu público da região e da Expodireto. Inclusive, chama atenção a ausência da Cotrijal entre os patrocinadores...De qualquer forma, o Planeta Agro cumpriu com o objetivo de colocar Carazinho efetivamente na agenda paralela de entretenimento da feira, e melhor ainda, valorizando talentos locais, que participaram dos shows de abertura...

 

Transparência

Passado o evento, o que se espera agora é a total transparência quanto aos gastos, o que não pode ser diferente quando envolve dinheiro público. Qual foi o custo total? Do recurso de R$900mil suplementado no orçamento 2025 para a cultura, quanto foi investido no evento? Quanto foi arrecadado em patrocínios? Qual foi o valor arrecadado pelos empreendedores locais que participaram com a venda de bebidas e lanches? Ou seja, quanto que o evento contribuiu para a economia local? Para se ter uma ideia, o resultado do Festival da Cuca com Linguiça, de Victor Graeff, corresponde a duas safras no município...

...Pro santo bater

...Como já publicado por esta coluna, somente o cachê dos dois shows nacionais foi R$542mil, porém, somado a estrutura, segurança, divulgação, etc, o valor, sem dúvida, foi bem superior. Contando que houve a divulgação de 16 patrocinadores, sendo sete Ouro, três Prata e seis Bronze, com cotas de R$5mil a R$15mil, chegamos ao valor aproximado de R$165 mil em patrocínios. Ou seja, o restante do evento deve ser pago com dinheiro público, o que não representa exatamente um problema se for comprovado o “custo-benefício”, e, principalmente se todo centavo gasto for devidamente publicizado...Afinal, ao ser eleito, um gestor público recebe uma procuração em branco para administrar da melhor forma o dinheiro do contribuinte. Como diz a música do Matheus e Kauan, “tudo que é meu, hoje é seu”...Mas vamos combinar que “pro santo bater”, precisa de transparência...Vamos aguardar...

 

Brincadeira (?)

Ainda falando em Expodireto, com a lamentável e injustificável ausência de representantes do governo federal na abertura da feira, todos os holofotes ficaram com o governador Eduardo Leite, que, inclusive, ganhou o apoio informal do presidente da Cotrijal Nei Cesar Mânica para a sua candidatura à presidência da República. Na solenidade de abertura, Mânica fez uma brincadeira que daqui a dois anos, Leite poderia voltar à feira como presidente...Vindo do Mânica, nunca é só uma brincadeirinha...

 

Pedágios

Diante da falta de anúncios de recursos ao setor por parte do governo federal, o anúncio de liberação de R$46,7 milhões para o enfrentamento à estiagem feito pelo governador deixou ele “bem na foto” com o agronegócio. Porém, é incompreensível que ainda em meio à crise provocada pelas enchentes e os prejuízos econômicos que serão causados pela estiagem, o governo do estado imponha ainda mais peso no bolso dos gaúchos com a implantação de sete novas praças de pedágio. Aliás, por incluir rodovias da região Norte do Estado, o problema já deveria estar sendo motivo de mobilização de lideranças locais. Como se não bastasse um presídio no nosso quintal, agora estaremos cercados de mais pedágios por todos os lados...

 

Números

As tardes de sexta-feira sempre eram aguardadas com grande expectativa na Expodireto Cotrijal, quando a direção divulgava o volume de negócios da edição, o que não deve acontecer este ano... O motivo não ficou muito claro, mas se for em função da possível queda na comercialização devido à estiagem, talvez seja um tiro no pé...Números negativos em uma das maiores feiras de agronegócio do país talvez servissem como mais um argumento importante para convencer o governo das necessidades urgentes do setor e da importância da securitização das dívidas, projeto que mesmo se aprovado pelo Congresso deve ser vetado pelo presidente Lula em nome do equilíbrio fiscal. Por isso, - com o perdão da analogia – “tapar o sol com a peneira” não seja a melhor estratégia...

 

Caixa-preta

Assim como não pode faltar transparência quanto aos números do Planeta Agro, uma gestão que se elegeu erguendo a bandeira da transparência continua pecando no que se refere ao estacionamento rotativo pago. As novas regras foram anunciadas parece que no “afogadilho”, apenas para baixar a poeira das críticas. Ficaram devendo explicações mais didáticas e, principalmente, ficou faltando abrir a caixa-preta deste contrato fechado em 2019 por dez anos com o custo de R$11.644.080,00. Afinal, quanto a empresa fatura? O que representa os 10% sobre a receita bruta repassados para a Prefeitura? Quantos empregos são gerados? O que será feito com as multas extintas depois de um decreto? O dinheiro será devolvido aos motoristas? Muitas perguntas sem repostas se tratando de um serviço público explorado por terceiros e que impacta diretamente no bolso dos cidadãos.

 

A propósito: diante da falta de explicações mais didáticas, o vereador Tenente Costa (MDB) protocolou um requerimento para que a Prefeitura indique alguém para explanar na Câmara sobre o novo decreto do estacionamento rotativo. Não precisava que um convite assim partisse de um vereador da oposição, mas precisou...

 

Munição

Falando em oposição, ao fazer uma cobrança muito sutil ao governo sobre o pagamento da Bolsa-Atleta, o vereador da situação Alaor Tomáz (PDT) acabou dando munição para a oposição, que pegou carona sentando na janelinha, reforçando as cobranças...Talvez esteja faltando mais articulação entre a base e a liderança do governo na Câmara. Diante de uma oposição que apesar de minoria vem se mostrando bélica neste início de governo, não tem porque um vereador da Situação fornecer munição de graça para a oposição surfar na onda...Entende-se que Alaor deve estar sendo cobrado pelos eleitores do setor que o ajudaram na eleição, mas questões assim tem que ser resolvidas a portas fechadas e não na tribuna...

 

Termômetro

Completados três meses da nova legislatura, sendo que um foi de recesso, nota-se uma heterogeneidade significativa no volume de trabalho apresentado pelos vereadores. Quanto as indicações, por exemplo, enquanto vereadores, como Márcio Guarapa (MDB) protocolou apenas três, outros, como Juliani Pinzon (PSDB) apresentou 49 Indicações. Aliás, os vereadores de primeira viagem são mesmo os que mais estão mostrando serviço neste início de legislatura. Outro exemplo é César Salles (PSB) que já fez 29 indicações. Sempre vale lembrar que o trabalho de um vereador vai muito além de formular indicações, - onde geralmente eles são meros “mentores intelectuais” e o trabalho duro fica com os assessores, - mas diante da dificuldade em avaliarmos outros quesitos mais subjetivos de desempenho, os números servem de termômetro...

 

Indignação

Como mulher, não posso deixar de registrar nesta coluna a minha total indignação pela fala machista e misógina do presidente Lula se referindo à nova ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. Ao afirmar que escalou uma “mulher bonita” para mudar a relação com o Congresso, Lula menospreza as conquistas de todas as mulheres deste país. Como jornalista, já ouvi muito políticos “elogiando” as mulheres que, segundo eles, “embelezavam” o recinto, fazendo com que sentissem um mero vaso de flor, ou ainda cumprimentando as mulheres que acompanhavam seus maridos em determinado eventos, quando a maioria das mulheres presentes é que ocupavam postos de lideranças, e elas sim, estavam acompanhadas dos seus maridos. Ou seja, falas misóginas não são novidade entre políticos do “Oiapoque ao Chuí”, mas nem por isso devem ser naturalizadas ou toleradas...E isso não é “mimimi”...