SAÚDE
Janeiro Branco: Monitoramento dos sentimentos é fundamental para a saúde mental

Kacielle Oliveira, psicóloga (Foto Mara Steffens/O Correspondente)
O primeiro mês do ano é dedicado a ações preventivas e promoção da saúde mental. Por isso é denominado “Janeiro Branco”. Mas você sabe como identificar se sua mente está sadia, ou se precisa de cuidado? O Correspondente conversou com a psicóloga Kacielle Oliveira e traz esclarecimentos importantes sobre este tema.
Para a profissional, preservar a saúde mental é tão importante quanto cuidar da física, mas muitas pessoas acabam negligenciando. “É preciso entender que nossa mente pode adoecer. Quando temos sintomas físicos, procuramos ajuda médica, mas quando se estamos com muitos sintomas emocionas, procura diagnóstico, não encontra e aí acha que não está doente. Por mais que já tenhamos avanços em termos de conscientização, ainda é preciso entender que a mente é o que toca o corpo”, frisa.
Neste sentido, por mais saúde física que alguém possa ter, mas não se não estiver bem mentalmente, acabará adoecendo. “Por isso é fundamental prestar atenção em como se sente rotineiramente. Os sintomas do adoecimento mental, enquanto o corpo ainda não demonstra é no que se sente. Como se acorda todos os dias? Se Sempre triste, sem objetivos, sem perspectivas, com sentimentos ruins, não é normal. E muita gente tem. As pessoas que já estão em sofrimento relatam que um dia ou outro sentem alegria e nos demais não se sente bem na família, no trabalho, em todas as áreas da vida”, exemplifica.
Kacielle destaca que a falta de saúde mental pode refletir no físico. Um exemplo disso são crises diversas que ocorrem com certa frequência. “Cada um tem seu tempo de resposta. Cada pessoa também tem o que chamamos de órgão alvo, pelas nossas predisposições genéticas. Quando algo não está bem surgem queixas como episódios de enxaquecas, de diarreia, problemas nos órgãos genitais como candidíase, infecções urinárias, labirintite, asma, e assim por diante”, coloca ela, acrescentando que pessoas que começam a ter mais noção sobre o funcionamento do próprio corpo, conseguem perceber e monitorar isso, embora ainda tratem somente os sintomas físicos. Assim, o ciclo irá se repetir pois a mente não está sã.
A psicóloga sublinha que quando se percebe que há repetições de sintomas físicos, está na hora de buscar ajuda para cuidar da mente. “De quanto em quanto tempo isto está acontecendo? E sempre monitorando os sentimentos ruins e a ansiedade. Ela é um faz parte do nosso sistema, mas seu papel é alertar e proteger em relação a situações novas ou perigosas. Mas sentir-se ansioso o tempo todo não é normal”, cita.
A influência das redes sociais
Kacielle Oliveira salienta que atualmente é difícil estar completamente desconectado do mundo virtual e tecnológico. No entanto, aponta que que é preciso priorizar o real. “Não entro numa ideologia de zero telas, mas é preciso fazer isto de forma equilibrada. Na verdade, as pessoas vivem comparações no mundo das redes sociais. Vivem o mundo ‘ideal’ de todos e olham para o seu e pensam ‘mas o meu mundo não é tão interessante’. Esta comparação gera insatisfação. Tudo isso em excesso e sem consciência faz as pessoas adoecerem mais”, diz.
Satisfação de forma saudável
A psicóloga sugere que as pessoas reflitam sobre a necessidade de tantos likes e visualizações. “As pessoas não estão se contentando mais somente com conversar umas com as outras, num pequeno grupo. Elas precisam de plateia, mas porque isso é necessário? O que estão buscando com isso? Mostrar aos outros o quanto estão felizes, mas até que ponto isso as preenche? Quem se questiona, se dá conta destas pautas, chega a conclusão que isto não oferece nenhum preenchimento pessoal”, analisa.
Realidade do consultório
No caso de Kaciele, as pessoas que a procuraram para atendimento não o fazem somente em busca de ajuda em momentos de maior demanda. Comparado há alguns anos, quando se procurava psicólogo somente em última instância, hoje já existe público que busca se entender. Os pacientes chegam com alguma queixa, mas não com sofrimento emocional.
No entanto, muitos ainda buscam ajuda com quadro avançado, inclusive já tendo passado por outros profissionais para tratar sintomas físicos e acabam recebendo indicação para buscar um psicólogo.
Ela também já identifica avanços quanto ao preconceito, uma vez que iniciativas que chamam atenção para a prevenção, inclusive a campanha Janeiro Branco, aliado à conscientização de outros profissionais da saúde sobre a influência da mente na saúde geral, está surtindo este efeito. “Vejo mais homens na psicoterapia, que eram mais resistentes. Eu tive, talvez por perfil, mas a cada 10 pacientes, um ou dois era homens. Hoje tem mais, quando que meio a meio. No entanto, são homens mais jovens”, comemora.
Dicas
Kacielle Oliveira conclui que o monitoramento das emoções é o primeiro passo para uma mente saudável, ou para a prevenção de alguma doença mental. Atividade física, alimentação saudável entram na lista de dicas. Por fim, ela deixa uma reflexão. “Um novo ano chegou, queremos que as coisas mudem, que seja melhor, mas o que eu estou fazendo para que seja um ano melhor? O meu desejo e a minha atitude estão coerentes? Se tiver discrepância, tem coisa errada”, finaliza.